Sombras Dos Cometas

 

Sombras Dos Cometas

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uito longe dali, em mar aberto, existia um reino há muito esquecido. Nos tempos antigos, esse reino era grandioso, suas terras se estendiam até o continente, mas quando os mares se ergueram, engolindo as terras baixas, o Reino de Astellum foi, em grande parte, submerso pelas águas. Ainda assim, algumas almas sobreviveram e se reuniram, erguendo a majestosa cidade de Astarmor, conhecida como a "Cidade Branca". Ela abrigava uma das maiores frotas navais do mundo, homens que dominavam as éguas, navegadores habilidosos que se guiavam pelas estrelas. Os céus eram sua cartografia, e os estudiosos da cidade eram, em sua maioria, bruxos. Os marinheiros que se aventuravam pelo vasto oceano avistavam Astarmor à distância, pois ela refletia a luz do sol como um farol divino. Os portos da cidade eram ricos e movimentados, suas estradas pavimentadas com tijolos brancos conduziam ao grandioso Palácio Real. Este edifício colossal abrigava uma vasta biblioteca e um observatório imponente, onde as riquezas exploravam os segredos do vasto céu noturno. Foi lá, sob o manto estrelado, que uma jovem chamada Astrid brincava com as constelações. Seus olhos brilhavam de excitação enquanto ajustavam o grande telescópio, buscando desvendar os mistérios celestiais. Possuía uma beleza celeste, e seus olhos caramelos curiosos sempre brilhavam com a intensidade das estrelas. Seu rosto era oval, suave, e adornado por uma pele pálida e imaculada, que contrastava lindamente com seus cabelos escuros como a meia-noite. O cabelo caía em ondas suaves até seus ombros, muitas vezes preso em um coque elegante. Seus olhos brilhavam de admiração enquanto buscava constelações inexploradas para anotar em seu caderno. Era uma noite calma do dia 29 de março do ano de 2199. A lua brilhava cheia no céu sem nuvens, e as estrelas cintilavam como labaredas de tochas em uma noite escura. Astrid estava sentada à mesa, rodeada por uma pilha gigante de livros diversos e várias xícaras de chá e café. Ela permanece tranquila no Observatório do Palácio do Castelo, imersa nos seus estudos cósmicos. Enquanto traçava linhas imaginárias entre as estrelas, anotando suas descobertas em seu pequeno livro, batidas suaves ecoaram no ambiente. A garota não deu atenção inicialmente, um descoberto, pois naquele lugar descente, já havia passado muito da hora de dormir. No entanto, uma voz firme e grave a fez saltar de susto, fazendo-a erguer-se da cadeira. Seu pai estava ali, parado logo atrás dela. Possuía uma barba castanha e olhos negros como a noite. Ele foi um grande guerreiro e um poderoso bruxo em tempos passados, mas os anos cobraram seu preço. Uma doença degenerativa o consumia por dentro e por fora, transformando-o em um espectro do homem que um dia fora, Antes, um homem imponente: alto, forte e robusto. O tempo e a doença, porém, não foram condescendentes com ele. Sua aparência outra majestosa agora se reduziria a uma magreza excessiva. Os olhos, outrara vivazes, estavam agora cansados ​​e marcados por olheiras profundas. Naquela noite, algo incomum aconteceu. Pela primeira vez em meses, ele conseguiu sair da cama. Astrid, sua filha, observou-o com surpresa. O rei, com a testa franzida, a interpelou:

─ O que você acha que está fazendo acordado até essas horas, mocinha? ─ disse o rei, com um tom brincalhão. Astrid fitou a coroa em sua cabeça. Era uma peça majestosa, feita de prata, com um cristal raro na ponta. Ela nunca soube o motivo pelo qual o rei preferiria aquele cristal em vez de uma esmeralda. Mas, naquele momento, isso não importava. Com uma voz sonolenta, ela respondeu:

─ Estou apenas terminando os estudos que o mestre Fingol me passou, meu pai. ─ O rei arqueou uma sobrancelha.

─ Não finja estar com sono. E não me lembro de Fingol ensinando sobre estrelas de navegação e runas mágicas. ─ Ele sorriu, e Astrid retribuiu.

─ Eu desejo aventuras, meu pai, assim como o senhor teve. ─ A expressão do rei tornou-se mais séria.

─ Minha filha, o mundo não é como os livros e histórias lhe contam. Ele é muito mais vasto, com suas partes heroicas e sombrias. Para o bem e para o mal. ─ O rei tentava assustá-la, mas os olhos brilhantes de Astrid só inflamavam ainda mais seu desejo de explorar além dos muros do castelo. Ele sentou-se ao lado dela.

─ Mostre-me o que tanto rabiscou em suas anotações, minha filha. ─ Seu sorriso era maroto. Astrid pegou as anotações e começou a falar:

─ Olhe pelo telescópio, pai. Os astros não estão se comportando de forma normal. ─ Curioso, o rei perguntou:

─ Como assim, minha filha?

─ Pelas previsões, teremos uma super lua daqui a 350 anos. No entanto, as anotações dos magos, bruxos e estudiosos estão erradas. Ela acontecerá este ano. ─ O rei empalideceu. A melhora que ele havia experimentado parecia ter sido anulada. Seus olhos percorreram as anotações e os volumes que ela havia lido. O semblante do monarca tornou-se sério, e a curiosidade da jovem não passou despercebida.

─ Eu fiz algo errado, meu pai? ─ indagou ela, com uma expressão simpática e brincalhona. ─ O rei, agora mais afável, respondeu:

─ Não, minha filha. Na verdade, agradeço por ter me mostrado isso. É um assunto que estudei há muito tempo. Poderia me emprestar suas anotações para que eu possa examiná-las com mais cuidado? ─ A estranheza da solicitação não escapou à moça, mas ela assentiu com a cabeça. Juntos, guardaram os muitos livros que ela havia selecionado. O rei, apoiando-se em uma bengala, prosseguiu:

─ Bem, já é tarde, e você deveria estar dormindo, minha filha. ─ Ela retrucou, com ironia e irritação:

─ Pai, tenho 17 anos e já sou uma mulher. Acredito que posso ficar acordada até mais tarde. ─ O rei sorriu e replicou:

─ Diga isso à sua mãe, não a mim. ─ A menção à mãe fez com que a filha lembrasse de algo:

─ Falando nela, é surpreendente que ela não tenha insistido para que o senhor fosse descansar, pensando em sua saúde. ─ O rei permaneceu em silêncio por um momento, enquanto a jovem o observava com um olhar de deboche. Por fim, ele propôs:

─ Bem, acabei fazendo o mesmo que você. Vamos logo, antes que ela nos flagre aqui.

Pai e filha caminharam juntos até os aposentos de Astrid. Ao adentrar, ela bateu as grandes portas de madeira esculpida e correu para a janela. A vista era magnífica: as amplas aberturas ofereciam um panorama da cidade, cercada por majestosas montanhas. A lua lançava seu brilho prateado sobre os telhados, enquanto as estrelas cintilavam no céu noturno como diamantes incrustados em veludo negro. A cidade, protegida por altos muros guarnecidos por magos e arqueiros, exibia grandiosos edifícios. A garota contemplava o cenário, perdida na imensidão do céu estrelado. Seu pai, apoiado no batente da porta, observava-a com um sorriso. Antes de sair, ele dirigiu-se a Astrid:

─ Vá logo dormir. Amanhã haverá um anúncio importante. Todos os lordes foram convocados. ─ Curiosa, ela não pôde deixar de perguntar:

─ O que será tão relevante a ponto de reunir todos os lordes?

─ Minha filha, não sei ao certo, mas o grande rei das planícies verdes está reunindo lordes e alguns reis. Algo importante está prestes a acontecer ─ disse seu pai com voz séria e grave. Ao ouvir o nome, ela recordou as histórias que havia escutado sobre o homem que o rei se tornara após o casamento de sua filha. Adoros Artoris, o rei do leste, era alvo de desconfiança. Ele havia perdido suas duas filhas no dia do casamento da mais nova, juntamente com toda a comitiva e a cidade. Não havia sinais de ataque ou batalha; as histórias diziam que nada fora saqueado ou destruído. Por sorte, ele e o restante da família não estavam presentes, mas a perda o transformara em um homem cruel. Adoros enviava mensageiros a todos os reinos, buscando aliados para enfrentar um inimigo cuja identidade desconhecia. No entanto, jurava lutar pela justiça de sua família. A viagem até a ilha era intrigante; por que vir tão longe do continente apenas para uma audiência? Talvez fosse propor uma aliança ou renovar a compra dos cristais da ilha. Esses cristais, banhados em energia poderosa, substituíam o uso de tochas, embora não aquecessem. "Bem, só saberei amanhã", pensou ela. Com suavidade, seu pai fechou a porta. Deitada entre os lençóis macios, ela fixou o olhar através da janela, contemplando o vasto firmamento noturno. A sinfonia silenciosa das estrelas a embalou, conduzindo-a a um sono profundo, como os abismos do próprio céu. Ao romper da aurora, os raios dourados do sol dançaram em seu rosto, arrancando-a dos braços dos sonhos. Esticou-se sob as cobertas, ansiando por mais momentos de descanso antes que a rotina tomasse conta de seu dia.

A calmaria foi abruptamente interrompida pelas batidas impacientes que ecoavam em sua porta. A voz autoritária de Catherine, conhecida por sua rigidez e frieza gélida, forçou-a a se erguer. A porta cedeu como se dominada por uma força irresistível, revelando a figura austera da velha ama. Sem cerimônia, Catherine puxou as cobertas, revirou o guarda-roupa em busca de vestimentas adequadas e coordenou a situação, algo raramente visto em sua rotina independente. Acompanhada por duas criadas, que se moviam como sombras atentas, a jovem foi preparada para o dia que se iniciava. Seus cabelos foram penteados com esmero, cada fio acomodado com precisão.

─ Minha princesa, a rainha a aguarda na sala do trono ─ anunciou Catherine de forma fria e direta.

─ Mas e meu pai? Não será ele quem irá receber os convidados? ─ indagou Astrid.

─ O rei amanheceu doente novamente, minha princesa. Portanto, a rainha assumirá esse assunto. ─ respondeu Catherine com tristeza. Um silêncio tomou conta da sala enquanto a ama, após sua atividade frenética, partia abruptamente, deixando Astrid aos cuidados das criadas. Enquanto caminhava pelos corredores, Astrid percebia a agitação no palácio. A rainha, sua mãe, parecia ter organizado uma grande recepção, algo incomum para um simples anúncio. No entanto, estava claro que algo grandioso estava prestes a acontecer. Era conhecido por muitos que a rainha, soberana, não se dedicava às pompas de festas e celebrações como outras rainhas. Ela sempre preferira aventuras e batalhas, algo que Astrid havia herdado de sua mãe, mas é claro, as duas tem o sangue dos Graylock, os maiores aventureiros do mundo, os desbravadores de todos os mares. À medida que percorria os corredores, Astrid percebia a agitação que se espalhava pelas paredes de pedra. O que normalmente era um refúgio de serenidade parecia um formigueiro movimentado. Cavaleiros, nobres e bardos conversavam, seus murmúrios formando uma melodia distinta de segredos. Um pressentimento pairava no ar, sussurrando que algo incomum estava prestes a ocorrer. "Por que diabos fazer toda esta surpresa, em vez de mandarem uma carta adiantando o assunto?", pensou Astrid, já cansada de tanto mistério. Odiava não ter conhecimento sobre algo. Enfim, ao adentrar a majestosa sala do trono, Astrid se deparou com um mar de pessoas que lotavam o grande salão. Ela atravessava a multidão, que abria caminho em sinal de reverência. Sentiu o impacto da grandiosidade à sua volta; nunca vira tantos olhares direcionados a ela. Seu rosto corou. O mármore branco, ornado com dourado, contrastava com o teto negro cravejado de pequenas janelas que, ao anoitecer, eram iluminadas pelas estrelas. Uma escadaria imponente, junto a um tapete ciano, conduzia ao trono cravejado de pedras preciosas e à coroa da realeza. Sob o olhar vigilante da rainha, a mesma coroa usada por seu pai, Astrid caminhava, encarando-a. Achava estranho o fato de sua mãe tentar ocupar o lugar de seu pai, ela possuía sua própria coroa, não precisava daquela, mas, em silêncio, tomou assento em lugar que beiravam o esplendor dourado do trono, ao lado de seu irmãozinho caçula. A rainha fitou seu olhar para ela, a encarando com uma cara não muito agradável, de uma forma bem que para muitos seria autoritária ou opressora, já para Astrid a voz da rainha parecia até meiga de mais esta manhã, cortante como uma espada afiada, rompeu o silêncio. Questionando a garota

─ Porque diabos a demora para chegar Astrid, você sabe que sua presença e sua ausência sempre serão notadas, ou prefere que eu receba

─ Eu estaria mais cedo aqui se soubesse o que está acontecendo, não acha? ─ Retrucando, ela respondeu com uma dose de ousadia controlada. Seus olhos, firmes e decididos, encontraram o olhar frio da rainha. Um silêncio gélido pairou entre as duas, um duelo de vontades que ecoava pela sala opulenta. A rainha, com sua postura altiva, desviou o olhar para a porta, sua voz soando como um eco distante e enigmático:

─ Se ao menos eu soubesse todos os detalhes, sei tanto quanto você ─ Era uma resposta que deixava mais perguntas do que respostas, um enigma que se enrolava nos cantos obscuros da mente de Astrid, e as ideias floriam em sua mente, pensando e maquinando sobre o que ainda mais poderia acontecer, "Se for para pedir dinheiro ou para comprar mais cristais isso será muito decepcionante "Pensou ela em silencio. Com um toque de ironia e sagacidade, ela tentou quebrar o gelo que parecia se formar entre elas:

─ Pelo que parece, não sou a única que está fazendo falta. Para convidados importantes, eles são muito rudes. ─ Um sorriso tomou os lábios da jovem e um pequeno sorriso saiu do rosto de sua mãe, as duas pareciam voltar ao normal, ela havia contado tudo sobre sua noite que havia passado com seu pai, a sobrancelha de sua mãe arqueou, uma veia saltou em sua testa enquanto ela falava, contava de suas anotações que seu pai havia pegou, a rainha parecia ter mudado de cor, assim como o que havia acontecido com o rei, mais antes que pudessem continuar falando sobre isso, as portas do grande salão se abriram com um estrondo, revelando a figura imponente do conselheiro real, Lord Aldric. Seu porte elegante contrastava com a expressão séria que carregava. Seus olhos escuros e penetrantes examinaram a todos no salão. Um murmúrio de reconhecimento e respeito percorreu a multidão à medida que ele avançava com passos calculados. O conselheiro real reverenciou tanto a rainha quanto seus filhos com um gesto solene, sua expressão demonstrando um respeito genuíno. Seu corpo ereto e firme indicava a autoridade que ele detinha, e com um movimento fluído, ele estendeu seu braço em um gesto amplo e deliberado, como se estivesse traçando o destino diante deles, Astrid e a rainha seguiram o gesto dele, voltando seu olhar para a entrada do salão. Lá, uma processão de convidados importantes se aproximava, suas roupas suntuosas e adornos reluzentes testemunhando seu status elevado na corte.

─ Majestade, Princesa Astrid, permita-me apresentar os ilustres convidados do reino, o representante do leste Cedric Irianth e o príncipe Eamon Artoris ─ Declarou Lord Aldric, sua voz ressoando com um tom de formalidade que não deixava dúvidas sobre a importância do momento. Os convidados entravam, estandartes eram erguidos, na frente deles, um grande leão branco em volto em chamas, haviam mudado o símbolo da família depois da morte da princesa, os olhares curiosos se cruzavam, pesados de desconfiança, e Astrid não era imune à tensão que pairava no ar. Ajoelhando-se em reconhecimento à soberania, os convidados se curvavam em reverência. O representante do leste avançou até o trono, e a rainha ergueu-se, posicionando-se à sua frente, um olhar firme trocado entre os dois. Aldric, então, aproximou-se com um tecido ricamente bordado em dourado, mostrando as bênçãos dos Aelir, como forma de confiança eles selavam um gesto de amizade com um aperto de mãos, com um gesto solene, ambos se desfizeram do aperto de mãos, e a rainha retornou ao seu trono. O príncipe tomou seu lugar ao lado do representante, iniciando as formalidades com um sorriso cortês.

─ É uma honra finalmente poder conhecê-la, vossa graça. Já ouvi muito falar sobre a Tigresa das Ilhas Púrpura, e parece que as histórias não fizeram justiça à sua presença majestosa. ─ A rainha não se iludia com as gentilezas proferidas pelo jovem sabre, ela estendia um olhar cortês e com um sorriso largo ela respondia:

─ Muito obrigada pelos elogios, jovem príncipe Eamon. Sejam muito bem-vindos. Como foi a viagem? ─ Eamon, ainda cortês, compartilhou sua experiência:

─ Em sua maior parte, cansativa. Mas assim que entramos em seus domínios, fomos recebidos por um mar calmo e pelo famoso pôr do sol púrpura. Nunca tinha visto nada igual. Este lugar é realmente incrível. ─ Suas palavras trouxeram alegria tanto à princesa quanto à rainha, embora a razão da visita do príncipe ainda permanecesse um mistério. Astrid, curiosa e entusiasmada, decidiu questionar:

─ Se me permite, príncipe Eamon, o que os traz tão longe de casa? Vocês enviaram uma carta avisando que estavam vindo, mas não falaram os motivos.

A rainha a encarou de forma firme, achando rude sua pergunta, o príncipe Eamon dirigiu um olhar intenso à princesa, despertando seu interesse e curiosidade. Antes que ele pudesse responder à pergunta de Astrid, Lord Cedric tomou a iniciativa, colocando uma mão firme na frente do príncipe. Ele começou a falar de maneira eloquente e elegante:

─ Viemos com boas notícias, nobre princesa, trago em nome do rei do oeste, uma proposta. ─ As duas, tanto mãe quanto filha ficaram intrigadas, e a rainha, com uma expressão de curiosidade, indagou:

─ Que tipo de proposta é essa, Lorde Cedric? ─ Indagou a rainha com curiosidade, o nobre avançou em direção à rainha, subindo alguns degraus, mas os guardas o impediram de prosseguir. Cedric então virou-se para a assembleia reunida no salão e começou a proferir suas palavras.

─ Todos aqui presentes sabem dos acontecimentos do casamento da filha de meu senhor, uma tragedia sem precedentes, mas o responsável por tudo isso não foi encontrado ─ um silencio reverberou pela sala antes que sua voz voltasse a ecoar pelo salão

─ Não foi encontrado, até agora, meu rei conseguiu informações valiosas, e agora ele sabe quem é o verdadeiro inimigo ─ O grande salão se encheu de um silencio profundo novamente

─ segundo a sagrada igreja, foram os apóstolos dos caídos, os pagãos ─ todos se encararão, e o salão inteiro entrou em debate, Astrid estava curiosa nunca havia se interessado de forma tão profunda por religião, fazia suas preces para o deus de tudo, mas não sabia que isso em particular seria motivo de tanto alarde, a sala borbulhava de conversas, as vozes aumentavam. Enquanto o nobre discursava, sua corte parecia um bando de ovelha berrando e esbravejando, a rainha observava-o com um olhar afiado, ela franzia suas sobrancelhas, já estava irritada de tanta politicagem, e seus convidados já haviam percebido, seu olhar era penetrante sobre eles, no entanto, os homens do continente, ainda mais os homens vindos das terras dos sempre verãos, sempre foram conhecidos por sua arrogância gigantesca e sua habilidade de persuasão, teciam suas palavras como uma costureira tece um tecido, e Lorde Cedric estava ganhando a atenção de todos e tanto rainha quanto princesa perceberam isso. Mesmo que a multidão não fosse particularmente receptiva aos arrogantes homens do oeste, ficou claro que as palavras do lorde estavam fazendo efeito. O discurso continuou inflamando o coração das pessoas ali presentes, por um tempo considerável ele falou, parecia que as palavras e maquinações não paravam de sair de sua boca, até que a paciência da rainha finalmente terminou. O salão ecoava com murmúrios e olhares curiosos enquanto Lord Cedric, com uma postura imponente, se aproximava do trono. Seus olhos, tão afiados quanto a lâmina de uma espada, varreram a assembleia. A rainha, a princesa e a corte aguardavam com expectativa.

─ Acho que já falou o suficiente, não é mesmo, Lord Cedric? Vamos direto ao ponto pelo qual você está aqui. Qual é a proposta do seu rei? ─ sua voz era firme e poderosa, mas havia um tom de melancolia subjacente Astrid, a princesa, sentiu o coração acelerar. A ansiedade estava matando-a por dentro, e com uma voz firme e cortante como gelo o homem respondeu:

─ Uma aliança entre nossos reinos, através do casamento entre o Príncipe Eamon e a Princesa Astrid. ─ As palavras de Lord Cedric ecoaram no salão, como se o próprio vento de uma tempestade tivesse as tivesse soprado. Astrid saltou de sua cadeira se pondo de pé, como se os desafiasse, era totalmente contra aquilo, encarou o príncipe. Seus olhos, estavam vazios. Ele parecia uma estátua de mármore, impassível diante do destino que se desenrolava. Seu conselheiro, um homem de sobrancelhas cerradas e olhar desconfiado, não escondia sua insatisfação. A rainha bateu o pé, quebrando o silêncio. O salão se curvou à sua vontade.

─ Perdão, meus lordes e meu príncipe. A princesa não está bem. Ela precisa descansar. ─ A voz da rainha era firme, mas havia ternura em seus olhos. Ela e Astrid se encararam, sabia que havia algo mais ali, antes que alguém pudesse protestar, Astrid pegou seu pequeno irmão nos braços e saiu do salão. Seus passos ecoaram pelos corredores de pedra polida. A raiva fervia dentro dela. "Quem era aquele garoto para vir aqui, dar ordens e exigir algo ali", seu irmão, confuso e inocente, a questionou:

─ Você vai se casar com aquele garoto, AS? ─ Ela olhou para os olhos do menino e respondeu:

─ É incerto ainda, mas a possibilidade não está ao meu favor. Odiaria me casar com ele ─

─ Por que seria tão ruim? ─ Questionou o pequeno Nilus. ─ Eu mal o conheço. Não foi como nossos pais, que já se conheciam e se amavam. Ele é um total estranho. Além disso, fiquei sabendo que a biblioteca do castelo dele é muito pobre em comparação com a nossa. Os livros de astrologia, anatomia e magia são muito insignificantes e básicos.

─ Mas não se esqueça de que eu tenho 8 anos. Simplifique. ─ Respondeu o garoto, demonstrando sua esperteza precoce. ─ Eu não quero isso para mim. ─ O garoto segurou sua mão com força. Os dois continuaram andando e conversando por um tempo. Até que Astrid avistou a ama de seu irmão, que o levou para seu quarto, despedindo-se com um abraço apertado. Astrid voltou para a biblioteca, mas notou algo diferente. Os livros que havia usado para pesquisa não estavam lá. Obra de seu pai. Por sorte, ele não havia encontrado tudo. Mal sabia ele que tudo o que ela escrevia sempre tinha uma cópia. Usando o telescópio do observatório, ela observava o cometa que se aproximava. Era diferente dos outros que havia visto. Parecia estar vindo em direção ao continente, mas não tinha total certeza. Todos os grandes meteoros e cometas que já caíram sempre atingiram o mar, nunca a terra. Seria o primeiro. Além disso, seu formato era totalmente diferente, disforme, mudando constantemente. A cor também variava. Havia motivo para a preocupação de seu pai. Ela era justificada. Não sabia se deveria contar a ele o que havia observado, mas precisava falar com ele. Não poderia deixar essa história de casamento de lado agora. Com certeza, seu pai não aprovaria. Pegou todas as informações que ainda restavam, alguns pergaminhos, livros e rascunhos, e os escondeu sob uma falha no piso de madeira, arrastando a mesa para cobri-los. Seu pai não os encontraria facilmente agora. Fechou a sala do observatório e seguiu em direção aos aposentos do rei, Laeris. Conforme andava pelos corredores, chegou ao jardim do castelo, um local gigantesco e belo. Observando o céu, viu uma tempestade se aproximando. No jardim, avistou finalmente o Príncipe Eamon, sozinho. Sentiu vontade de ir ao seu encontro e trocar algumas palavras, mas aquele não era o momento apropriado após sua reação na sala do trono. "Conversaremos em um momento mais oportuno", pensou ela, continuando a caminhar pelos corredores. Percorreu uma longa distância, pois os aposentos do rei ficavam na parte mais alta e fortificada do castelo. Finalmente, havia chegado. Toda aquela ala do castelo era feita de mármore branco e azul, que se misturavam entre si. A porta do quarto era grande, feita de carvalho esculpido, pesada e imponente. Ela se aproximou da porta, mas viu que ela estava trancada, era estranho, a porta sempre estava aberta, para o caso de uma emergência com a saúde do rei, era a primeira vez que estava trancada em anos, mas ela sabia como entrar em cada cômodo daquele castelo, seus ancestrais haviam construído passagens por todo o castelo era como um labirinto, e seu conhecimento havia sido a muito perdido, Astrid passou em todo seu tempo livre mapeando aqueles tuneis, e depois de anos finamente conseguiu, criando um mapa o qual guardava sempre consigo, mas já havia andado tanto por aqueles tuneis que já sabia andar sem o mapa, o qual usava somente quando o caminho era muito extenso ou quando tinha que fazer varias paradas, o quarto real tinha varias entradas mas somente algumas delas eram corretas, a primeira ficava ao lado da grande porta, usando um cristal ela escreveu em uma língua antiga ao qual dizia " Em nome do rei eu passarei " e uma pequena passagem se abriu, era escura e cheia de poeira, nunca havia usado aquela passagem, mas mesmo assim adentrou, e logo após passar a passagem se fechou, um breu tomou o local, mas seu crista que estava pendurado em seu pescoço começou brilhar em seu peito, ela se guiou pela escuridão até ver uma pequena e frágil luz, ela se aproximou e viu que a parede era muito fina e cheia de rachaduras o suficiente para se ver do outro lado, havia uma estante cheia de livro na frente, mas como haviam alguns livros faltando se podia ver de forma clara, e ao ver seu pai e sua mãe brigando ela entendeu o por que da porta estar trancada, a briga era tão intensa que se podia ouvir do outro lado da parede, nunca havia visto seu pai tão bravo antes, que estava a gritar.

─ Como diabos você faz uma coisa dessa, sem nem ao menos me consultar primeiro, você faz ideia do que você fez, nos aliar aqueles lunáticos ─ As veias de sua testa estavam saltadas, nunca havia visto seu pai perder a cabeça, muito menos gritar daquela forma, estava acostumada com sua mãe agindo daquela forma, mas pareciam que os papeis se inverteram, ela estava prostada na janela, mas com um olhar frio e mórbido

─ Eu fiz o que eu achei certo, ou você preferia que eu recusasse a oferta deles ─ o rei estava deitado em sua cama, seu rosto que parecia tão forte na noite anterior estava pálido, ele mal se mexia, e toda vez que tentava uma forte tosse passava por sua garganta.

─ Recusasse. por mim não teríamos recebido nenhum deles em nossa casa, e por que você foi atras de um casamento para nossa filha sem me consultar antes ─ Ao ouvir aquilo Astrid o motivo de sua mãe não ter ficado surpresa

─ Recusar, quer trazer guerra a nossas praias e nossas terras, se recusássemos eles iriam até as ilhas da tormenta se aliar a eles, você quer mesmo que aqueles vermes do mar adentrem esse palácio, caso nos recusarmos isso acontecerá, não podemos travar uma guerra contra a santa igreja, os ocidentais e os piratas da tormenta, e sobre o casamento ela já é uma mulher, chegou a hora dela sair de seus livros e agir como tal

─ Eu prefiro ver o mundo pegando fogo do que ver minha filha com aquele verme ignorante, nenhum exército jamais nos venceu em nossas terras, ou no mar, então sim prefiro a guerra, os números estão a nosso favor

─ Não seja tolo, logo toda a raça humana estará unida sobre a bandeira do grande leão branco, não podemos contra todos, nem mesmo se nos juntarmos aos anões e aos elfos poderemos vencer ─ ele recuperou a compostura, se inclinou para uma cômoda ao lado da cama é puxou o caderno com as anotações de Astrid, sua curiosidade aumentou, queria saber a importância de um simples cometa, ele entregou o diário para Tari estendeu a mão pegando o diário, ela se sentou em uma cadeira, e foleou as anotações por um tempo, sua expressão calma mudou, ela parecia assustada, Astrid ficou intrigada, sua vontade era de entrar no quarto e fazer suas próprias perguntas, mas ponderando só causaria uma comoção, e não conseguiria suas respostas.

─ Ela tem certeza disso? as vezes ela pode ter errado os cálculos, ou até mesmo visto errado, confundido com outro cometa ─ Seu semblante calmo e frio que estava a esbanjar a alguns segundo mudou, parecia confusa e assustada, ela jogou o livro na cama, e se sentou ao lado do rei

─ Isso não é bom, não é nada bom, a não ser que cheguemos antes deles ─ O rei acenou com a cabeça, pegou o diário e guardou na sua cabeceira, ele apanhou a bengala que estava ao lado de sua cama, se levantou com dificuldade, sua roupa branca estava manchada de sangue, Astrid se espantou ao ver o estado de seu pai, a doença já estava muito avançada, não imaginara ela, estava no estada que sua carne estava apodrecendo, mas seu pai era um rei, poderia contratar os melhores médicos, assim se convencia, um gemido de dor saiu pela boca do rei que olhava sua linda Tari.

─ Ainda há uma pequena chance, se o que estiver vindo para cá realmente para um Aelir, nós poderemos encontrá-lo, podemos pedir ajuda, isso se ele quiser nos ajudar ─ Ela que observava na escuridão estava intrigada, o que seria esse Aelir que eles falavam com tanto medo, o rei caminhou lentamente para fora de seu quarto, sua mãe que o segurava pelo braço o ajudava a sair do quarto, empurrando a porta sozinha, e com uma mão a fechada com muita força, ao observar que todos tinham saído do quarto ela de forma discreta acionou a passagem, a cômoda se moveu junto da parede, abrindo a passagem para que ela pudesse adentrar no quarto, ela olhou por todos os lados, mas não havia ninguém no quarto "Não custa nada se precaver" descobriu ela enquanto entrava com passos de gato, ela se esgueiro até o meio do quarto, fazia algum tempo que não entrava ali, sua mãe não permitia a entrada nem dela, de seu irmão ou além dos médicos, ela andou até a comoda de seu pai, abrindo a ela viu seu pequeno caderno de anotações, ela rapidamente o apanho mas por descoberto acabou empurrando o fundo da cômoda que se abriu, informou bem e também tinha coisas na parte de trás, parecia ser um esconderijo, havia outras coisas além de papeis, remédios e bugigangas sem sentido ou que ela não compreendia, havia um livro e um bracelete, o livro era grande, com uma grande capa dura, negro e com um orbe vermelho no centro, mas estava todo cheio de correntes, pensando de forma lógica provavelmente Aquilo teria vinculo com suas pesquisas, então de maneira sorrateira ela jogou o para dentro de sua mochila, ela fechou a parte de trás da cômoda, e de forma astuta colocou outro caderno de anotações no lugar, fazendo uma cópia, mas contendo algumas informações falsas e erradas, até descobrir os planos de seus pais ela não mostraria tudo o que a eles, pelo menos, não sabia por enquanto, ela havia ocultado todos os paços de suas presenças, ela se poderia até a porta, mas a porta era tão pesada que nem mesmo com duas mãos ela conseguiu abrir, seria necessário pelo menos dois homens para empurrá-la " Seria mamãe um monstro? " achei ela de forma irônica, batidas de passos ecoavam pelos corredores, parecia que alguém estava se aproximando e indo em direção ao quarto, rapidamente ela se postou de forma furtiva a correr até a passagem de onde havia vindo, rapidamente ela adentrou e fechou a porta, um grande barulho tomo o quarto como se a porta tivesse sido aberta de uma vez, ela olho entre as rachaduras, e era sua mãe que havia apresentação para buscar suas anotações, Astrid observou que sua mãe saiu do quarto, ela estava curiosa para descobrir o que estava acontecendo, mas por enquanto o que sabia já bastava, era coisa de mais para um dia só, já estava cansada e a noite se aproximava, já estava na hora de descansar um pouco.



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