Prólogo
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ia seis de dezembro mês do grande solstício, do ano 2190 da era do crepúsculo, um dia de sol forte, os ventos dançaram carregando a notícia de uma grande celebração; a capital do reino de Aldcarion estava em festa. O rei comemorava com o casamento de seu filho caçula, o príncipe dos áridos desertos vermelhos do Sul, Arnold, com a princesa dos férteis campos verdes do Leste. Embora fosse raro que nobres de nações distintas unissem suas vidas, tal evento estava prestes a acontecer. Caravanas de todas as atrações convergiam para a cidade, trazendo consigo nobres e dignitários que lotavam os estábulos do imponente castelo rubro, algumas caravanas eram tão grandiosas e opulentas que mais compensavam fortalezas móveis, ricamente adornadas com ouro, prata e pedras preciosas. Nobres de estirpe e suas comitivas chegavam de todas as direções, trazendo consigo o esplendor de suas terras. Enquanto os preparativos para a festa avançavam, os cavalos, exaustos após longas jornadas, eram acomodados para descansar. Eldran, um acólito das desoladas torres ermas, desmontou de seu corcel. Ele foi escolhido para entregar em nome dos veneráveisantigos do oeste, com passos meticulosos, Eldran atravessou os pátios efervescentes do castelo, seu manto cinza dançando ao sabor do vento. Vestia uma túnica da mesma cor, adornada com detalhes em azul profundo e o emblema da academia de magia, duas serpentes entrelaçadas formando um cajado majestoso. Seus olhos, habituados à penumbra poeirenta das bibliotecas, agora se deleitavam com os arranjos festivos de flores e bandeiras que embelezavam as muralhas. Ao entrar nos salões, foi acolhido com sorrisos e cumprimentos respeitosos dos serviços e guardiões do castelo. A atmosfera efervescente da celebração era quase tangível, com nobres trocando palavras em burburinho animado, enquanto o brilho de suas joias competia com o fulgor das tochas, Eldran sabia-se à mesa dos presentes, depositando ali os tomos valiosos e artefatos sagrados confiados pelos nobres . Contudo, seus olhos não podiam ignorar a mesa repleta de iguarias, cuja visão fazia brilhar seus olhos famintos. Após dias a cavalo, seu estômago clamava por alimento. Enquanto as celebrações prosseguiam ao seu redor, uma sombra de inquietação se insinuava nos Anciões. Ele sabia que, por trás do véu das festividades, escondia-se uma tensão latente. Em sua primeira missão como escriba, cabia-lhe registrar e documentar todos os acontecimentos naquele dia. As alianças reais foram recentemente prenunciadas de paz; frequentemente, mascaravam segredos e interessavam ocultos. Os antigos manuscritos e profecias das sabedorias ecoavam em sua mente, alertando-o para as intrigas que se teciam nas sombras daquele esplendor. Os líderes fizeram o anúncio para se manterem vigilantes, cientes de que seu papel era mais significativo do que o de um simples mensageiro. Ele não estava ali somente para prestar homenagens aos noivos ou como um mero convidado,mas para documentar e registrar os acontecimentos ocorridos à noite, assumindo a responsabilidade de um diligente escriba da irmandade celeste. À medida que a tarde dava lugar à noite, a festa começava a ganhar vida. Eldran posicionou-se próximo ao bufê, entregando-se com voracidade às iguarias dispostas. Nunca se deleitasse tanto com a comida, e sua empolgação era tamanha que não notou a presença de uma dama ao seu lado. Ao para a direita, seus olhos resgataram uma jovem vestida com um suntuoso vestido vermelho, várias joias adornavam seus braços, e um grande colar de prata com técnica damasquina relacionada em seu pescoço, no centro do qual brilhava um rubi vermelho intenso, tão vermelho que lembrava sangue, ele reconhecia aquela técnica, os anos das montanhas de fogo fizeram aquele colar, com uma técnica e habilidade que deixou todos os ferreiros dos homens com inveja. A moça era deslumbrante, com longos cabelos dourados e olhos verdes. Com um sorriso simpático, ela indagou:
— O que faz um jovem mago da irmandade empanturrando-se de comida tão longe de casa? — Disse ela, com um sorriso simpático, ele pousou a comida na mesa e respondeu enquanto limpava a boca:
— Bem, minha senhora, ainda não sou um mago, sou apenas um escriba. A irmandade me convidou para documentar este casamento, um evento de grande importância, claro. Não é comum que nobres de reinos distintos e distantes se unam desta forma, e a comida é de fato deliciosa, ela riu suavemente e replicou:
— Perdão, jovem escriba. Pelo seu traje, pensei que fosse um mago das torres ermas. Não é comum vê-los em casamentos, mas de fato, é um evento incomum. É a primeira vez que vemos nobres de países diferentes unirem-se em matrimônio.
— Na verdade, convocado fui às pressas para estar aqui. Os antigos promoveram-me um mago apenas para esta ocasião, mas não realizaram os rituais necessários. Então, técnicos, sou e não sou um mago. Perdoe não me apresentar sou Eldran, mas, se me permite a pergunta, senhorita, de onde você está, e qual seria seu nome?
— Que indelicadeza a minha, sou Lady Megan Artoris, irmã da noiva — ele ficou honrado e surpreso ao mesmo tempo, uma princesa conversando de forma tão casual com ele. Inclinando-se, ele fez uma reverência a ela, que permitiu o incentivo a se levantar.
— Por favor, levante-se, não há necessidade de reverências. Estou à procura de uma companhia para ter uma boa conversa nesta festa, não de mais bajuladores. E seria agradável conversar com um homem de fé e ciência — ele se sentiu lisonjeado e aceitou ser a companhia da princesa, mas antes, ele a alertou:
— Minha senhora, devo avisar, estou a serviço da irmandade, ou seja, estou em serviço. Tem certeza de que deseja a companhia de um mago que provavelmente passará a maior parte da festa anotando coisas em um livro?
— Ah, mas isso será muito melhor do que os senhores e senhoras que só querem me bajular e pedir minha mão. Além do mais, quem sabe sua companhia não o inspira a me incluir neste seu livro? — os dois riram um pouco e, balançando a cabeça, ele respondeu:
— Quem sabe eu realmente a incluir. — Ele então ofereceu seu braço em um gesto cavalheiresco, que ela aceitou graciosamente. Juntos, caminharam pelo grandioso palácio vermelho, enquanto Eldran anotava tudo o que via e julgava ser importante para a irmandade. Megan, por sua vez, admirava a rica arte e a beleza do lugar. Foi a primeira vez que o povo de Aldcarion revelou-se surpreendentemente hospitaleiro, uma característica pouco comum para um povo geralmente recluso. Após percorrerem o castelo, a noite desceu sobre eles, trazendo consigo toda a pompa e majestade que a terra de Aldcarion poderia ostentar. O jovem mago trajava seu melhor robe, um manto azul-escuro com detalhes dourados e uma grande capa, adornado por anéis de prata. Ao seu lado, a Princesa Megan brilhava, vestida com um traje verde que rivalizava com a beleza das folhas das árvores, enriquecida com detalhes dourados e um colar que especificamentevava especificamente em seu peito. A festa já estava em pleno andamento, com abundância de comida, bebida e música enchendo o grande salão do castelo. A alegria era contagiante; todos dançavam e cantavam, comemorando o momento festivo. Eldran, aproximando-se dos jovens noivos que conversavam à mesa do banquete, inclinou-se em uma reverência e proferiu suas palavras:
— Boa noite, nobre casal. Em nome da irmandade, você deseja um casamento repleto de alegria e felicidade. Que esta data seja abençoada pelos deuses de homens, elfos e anões. E, antes que eu esqueça, trago-vos um presente dos anciãos da cidadela.
Com gratidão, tanto o noivo quanto a noiva expressaram seus agradecimentos. Eldran, então, retirou-se para a mesa de Megan, situado próximo ao casal, e retomou a escrita em seu livro, documentando cada detalhe daquela noite noturna, enquanto sua companhia se entregava ao vinho e às guloseimas, Eldran se dedicava à meticulosa tarefa de registrar tudo o que parecia digno de nota. Megan, por sua vez, insistiu para que ele se entregasse também às delícias da celebração.
— Vamos lá, Eldran, uma taça não fará mal algum — disse ela com a voz já embargada.
— Devo manter todos os meus sentidos alertas, minha senhora. Nunca se sabe quando a pena correrá pelas páginas, e não posso correr o risco de minhas mãos tremerem.
— Uma única taça não prejudicará sua habilidade, e como princesa, ordeno que você ao menos prove — retrucou Megan, e relutante, ele aceitou. Eldran contemplou em silêncio a taça dourada que Megan acaboua de servir, aproximando-a dos lábios hesitantes antes de tomar o primeiro gole. O vinho acariciou sua língua, provocando uma explosão de sabores nunca experimentados. Era como se uma sinfonia de frutas maduras dançasse em sua boca: amoras silvestres, cerejas vermelhas e um sutil toque de especiarias. O líquido escorreu por sua garganta, aquecendo-o por dentro. Uma sensação reconfortante se manteve por todo o seu ser, como se cada célula estivesse despertando para um novo mundo de prazeres delicados. Logo em seguida, ele serviu-se de mais uma taça, e um sorriso malicioso curvou os lábios da princesa.
— Com moderação, meu amigo. Caso contrário, não será possível registrar mais nada em seu livro. — Ele viu a enrascada que poderia se meter e colocou a taça de lado, eu não consegui seguir minhas próprias palavras, falou com sigo mesmo
— Tens razão minha senhora, peço perdão, mas realmente o vinho é algo diferente e muito delicioso, coloquei ele em minhas notações.
— Fico feliz que tenha gostado, espero que você coloque quem o apresentou ao vinho em nota.
— Pode deixar, minha princesa, jamais deixaria duas coisas tão belas de fora de minhas anotações — Respondeu ele, um sorriso maroto logo apareceu no rosto dela, que voltara a beber seu vinho, A festa tristea, e todos dançavam e bebiam, imersos na alegria da celebração. A noite profunda havia chegado, e os noivos se ergueram, seus olhos brilhando com a promessa de um destino entrelaçado. Lentamente, eles caminharam em direção ao altar, onde o grande sacerdote os aguardava. A noiva, envolta em um vestido branco adornado com detalhes dourados, parecia uma visão celestial. Seus cabelos dourados reluziam como raios sob a luz da lua. O príncipe, por sua vez, trajava um colete vermelho de seda, sua postura firme e forte. Seus cabelos negros encaracolados capturavam a luz da lua, e sua pele negra reluzia como ébano polido, os degraus do altar os conduziram até a presença da santidade. Um arco de pedra se ergue sobre suas cabeças, aberto para revelar a cidade iluminada pela majestosa luz lunar. O noivo, com olhos intensos como aço forjado, tomou a mão da noiva, cujos olhos profundos refletiram os lagos escondidos nas montanhas. Diante do sacerdote, ele começou a recitar os votos:
— Diante dos falsos deuses caídos e dos triunfantes deuses de luz, rogo às estrelas que sejam minhas testemunhas. Prometo-te, minha amada, ser teu escudo contra as sombras deste mundo. Minha liderança, como príncipe e homem, será sua espada afiada contra nossos inimigos. Eu, Donn Greyumber, juro ser teu até o fim desta era.
A noiva respondeu com perguntas:
— Aceito tuas palavras como as primeiras feridas pelos criadores deste mundo. Prometo-te fidelidade não apenas nesta vida ou nesta era, mas para todo o sempre. Serei tua luz nas noites escuras e tua fortaleza nas tempestades. A ti, Donn Greyumber, entrego minha alma.
O sacerdote, com voz ecoando como o vento através das colinas, interveio:
— Pelas raízes antigas deste mundo, declaro que estas almas se tornam uma só nesta hora sagrada. Que nossos caminhos se entrelacem como as estrelas que correm juntas pelo infinito céu. Que nossos corações brilhem com amor e eternidade, como as estrelas no firmamento.
Sob o olhar atento dos presentes e com os deuses como testemunhas, os noivos trocaram votos que ecoariam através das eras. Seus destinos se entrelaçaram no tecido do tempo, como uma tapeçaria cósmica. O beijo de selamento selou essa união, e os aplausos ecoaram pelo grande salão. Eldran anotou cada detalhe, enquanto Megan, feliz por sua irmã, aplaudia. A festa retomou sua pompa, e todos celebraram a magia daquela noite inesquecível, a melodia ecoou pelo grande salão, envolvendo os presentes em sua teia de mistério e encantamento. As palavras, como fios de prata, teciam uma narrativa, repleta de segredos e uma melodia melódica. Eldran, atento e intrigado, anotou cada verso em seu livro, ao qual ele a chamo em seu livro como a Queda dos Céus
Nas terras antigas, onde os ventos sussurram,
Os céus se dividiram, um abismo profundo.
Pai e filho, anjo e deus, na batalha eterna,
Suas asas rasgando o véu do mundo.
Ó anjo, outrara amada, ousou descer à Terra,
Se apaixonou por uma mortal, coração em chamas.
A luz da alvorada perdeu seu brilho,
Mas o amor proibido selou seu destino.
Quando a lua vermelha surgir no horizonte,
Corra, corra, pois o rei dos anjos caídos voltará.
As estrelas se apagarão, o céu se romperá,
E a aurora sangrenta anunciará o fim dos dias.
Eldran, perplexo, é sempre a melodia melódica demais para um casamento. Afinal, canções como essa costumavam ser contadas e cantadas como histórias de terror entre outros povos. Megan, percebendo sua confusão, o tranquilizou:
— Não se preocupe, é um costume dos povos de regiões mais áridas como essas. Eles cultuam os antigos deuses, reverenciando as lendas que ecoam desde tempos imemoriais.
Eldran, surpreso, refletiu sobre a diversidade de crenças e tradições no mundo. Ele ainda tinha muito a aprender sobre os mistérios que permeavam os reinos além do seu próprio. Com um aceno de cabeça, ele respondeu à princesa:
— Intrigante, pensei que todos os povos tivessem abandonado os antigos deuses.
— Muitos o fizeram, mas para eles, os antigos deuses são seus salvadores. Deidades que lutaram por eles e que ainda sabem de seus defeitos, quiseram viver entre nós. É algo que faz com que você se sinta especial, não acha? — Eldran concordou, concordando com a princesa. Embora seus ensinamentos divergissem, ele sempre considerou os deuses caídos como demônios demoníacos, não como divindades benevolentes. A noite tranquila, e a festa não dava trégua. O vinho fluía, e Eldran já havia abandonado seu livro. Tudo o que merecia nota já havia ocorrido; agora, ele poderia aproveitar o restante da noite. Enquanto faz companhia à princesa Megan, algo sinistro se desenrolou. Um frio percorreu sua espinha, eriçando os pelos de seu corpo. Não era um frio comum, e não estava sozinho nessa sensação. Megan tremia, sua expressão estranha. Seria o efeito do vinho? Não. Ao se virar, Eldran contemplou o céu. As estrelas tinham desaparecido, e o firmamento se tingiu de vermelho, como sangue. A lua, outrara encantadora, agora era apenas uma sombra pálida. Ao longe, um clarão rasgou o céu, como se as próprias estrelas estivessem desabando. Quando o clarão tocou o solo, uma nuvem de fogo surgiu, consumindo tudo. Eldran sentiu sua força se esvair, e em pensamentos, suplicou aos deuses antigos e aos novos que o salvassem daquele lugar. Mas suas preces não encontraram eco. Não ali, não naquele momento. A esperança se esvaía, e o mundo parecia prestes a desmoronar.
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